Hoje inauguramos uma nova secção aqui no blog chamada “histórias de viagem”. Porque todos os viajantes se tornam contadores de histórias, há, naturalmente, imensas aventuras que ficam para a posteridade e das quais nos rimos de cada vez que falamos ou lembramos.

Era uma vez um casal (sim, nós mesmos, estes que vos escrevem) que estavam a ir para a praia e viram ao longe, estendidas na areia, duas toalhas azuis. Pensaram “Que maravilha! Aquelas duas toalhas mesmo prontas para que nos deitemos.” E assim foi, sem olhar se teriam dono ou não, deitaram-se. Isto era tudo muito giro num mundo de loucos, certo? Certo! É claro que nada se passou assim, pelo menos para nós…

No ano passado, na Tailândia, mais propriamente enquanto desfrutávamos da calma das ilhas Koh Phiphi Don, ficámos hospedados num hotel acima da média de hotéis que costumamos frequentar. Primeiro porque estávamos cansados e queríamos uns dias para repor baterias, segundo porque tínhamos acabado de casar (uma aventura que nos deu muito que fazer e planear) e queríamos algum tempo para nós e terceiro porque o país permite-nos viver num luxo momentâneo, devido ao valor da moeda face ao euro. Tudo isto para dizer que neste hotel eram-nos facultados serviços que até então não estávamos, de todo, acostumados. O fornecimento de toalhas para uso quer na piscina ou na praia, era um deles. As toalhas chegavam todos os dias, perfumadas e macias, de cor azul turquesa à nossa porta.

Nessa manhã, agarrámos nas toalhas que cedo nos tinham deixado, fomos tomar o pequeno almoço e rumámos à praia. Estendemos as toalhas em duas espreguiçadeiras vazias que estavam à beira mar e deitámo-nos a ler um livro cada um (que vida chata…).

Passada uma meia hora, aproxima-se de nós um casal (marido e mulher) com os seus setentas, aparência inglesa -pele demasiado vermelha a contrastar com o seu cabelo branco e quebradiço- que nos perguntam se podíamos sair dali. Que estranho. Sair, porquê? Estávamos em cima das suas toalhas, diziam eles. Muito espantados, eu e o Ivan olhámos um para o outro e resolvemos perguntar-lhes se estavam a brincar. Explicaram-nos que antes de irem tomar o pequeno almoço, tinham passado pela praia para guardar as suas espreguiçadeiras e que tinham deixado as suas toalhas como referência. Começámos a duvidar da nossa própria sanidade mental! Eu voltei a ver em filme a nossa saída do quarto, do momento em que agarrámos nas toalhas e saímos. Não podia ser, estavam completamente enganados. Tínhamos a certeza. Certeza absoluta! Eu até me lembrava de ter a toalha comigo quando me sentei à mesa do pequeno almoço e do momento em que estendemos as toalhas nas espreguiçadeiras. Enfim, as toalhas eram nossas e aquelas espriguiçadeiras pertenciam-nos (por umas horas, é claro). O casal, em que a porta-voz era a mulher e o marido falava entre dentes, não parou com as insinuações e eu comecei a ficar realmente chateada. Num diálogo que se tornou pouco simpático, todo ele em inglês, perguntei-lhes se tínhamos cara de quem queria roubar toalhas e se achavam que teríamos algum gosto em nos deitarmos em toalhas usadas por outras pessoas. O Ivan, em jeito de bom samaritano  jurava a pés juntos que quando tínhamos ali chegado não estavam lá toalhas nenhumas e eu já deitava fumo pelo nariz. O senhor não dizia mais nada a não ser “bullshit!” e eu numa tentativa de me controlar, acabei por agarrar nas toalhas e oferecer-lhas. Viraram costas, já tinham estragado a manhã de um casal que se estreava nessas lides de espreguiçadeira e praia. Estávamos ali, quatro pessoas, numa ilha de uma beleza incrível a discutir por causa de duas toalhas de praia. Mais tarde, já no mar, vimo-los ao longe, na outra ponta da praia, talvez nas espreguiçadeiras que realmente lhes pertenciam.

Nos dias seguintes, para onde íamos nós, lá estava o famoso casal (ou não estivéssemos numa ilha). Ingenuamente pensei que nalgum daqueles dias um pedido de desculpa ia chegar. No pequeno almoço do dia seguinte, ainda me lembro do olhar de reprovação que o senhor me fez e o gesto de negação com a cabeça. E eu ri-me! Furiosa por dentro porque não roubei toalhas a ninguém mas com algum gozo por saber que havia alguém que nos conhecia tão mal ao ponto de achar tínhamos provocado aquela situação.

Hoje, possivelmente, enquanto vos conto esta história a vocês, estarão eles a contar aos seus netos sobre aquela vez em que foram às Phiphi e um casalito de jovens lhes roubou as toalhas. E eu, já deste lado do mundo, respondo ainda com alguma fúria: “bullshit!”

Até à próxima,

Joana


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